quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A VIDA DE UM HOMEM CHAMADO TOM


Ei, ei, galerinha. Aqui é o Igor de novo e como eu disse, vou postar alguns textos antigos meus. Não sei se vcês curtem ler, se tem paciência pra tanta letra, mas essa crônica se chama "a vida de um homem chamado Tom" e eu a escrevi há alguns anos atrás. Espero que gostem:

--

Ele era um cara alto, consideravelmente taciturno e bastante amistoso. Ele acordava por volta das seis da manhã e chegava ao trabalho ás sete. Almoçava por volta de uma hora e chegava em casa ás seis e meia. Costumava jantar macarrão de microondas e ver televisão o resto da noite. Quando nasceu, sua mãe resolveu que seu nome seria Tom.
Naquele dia prolixo em especial Tom resolveu checar sua correspondência antes de entrar em casa. Aliás, ele nunca recebia nada além de contas. E foi o simples abrir da caixa de correio que mudou o resto da sua noite e, quem dirá, da sua vida. A portinha abriu e balançou perigosamente sobre a única dobradiça que ainda restava, enquanto Tom recolhia as contas de luz e água. Depois de ter o correio recolhido, bateu a portinhola com um pouco mais de força do que deveria, e um baque fino anunciou que a última dobradiça também já era.
Por alguns milésimos de segundos o apetrecho de metal caiu em direção ao pé de Tom, e acertou seu dedão com uma força nauseante. O berro, como podem imaginar, foi plenamente audível. Ele xingou toda a família ainda viva da porta da caixa de correios e mancou para dentro de casa. Mórbido ao estremo, olhou para a unha sangrenta no seu pé e achou prudente procurar um hospital.
O caminho foi longo e dolorido. Sempre era. Tom mancou até a recepcionista e ainda conseguiu energias para discutir com ela. “Mas eu estou para perder o dedo!”. E depois de algum tempo ele entrou na sala de emergências. Soltando ganidos exagerados de dor, ele foi examinado, medicado e enfaixado. Estava sentado numa das salas brancas do hospital e ficou encarando o dedo recoberto de branco. Parecia ter duplicado de tamanho.
Passou quase quatro horas no hospital até ser liberado sob o pretexto de voltar em duas semanas. Posso dizer que a vida não ficou mais generosa para com Tom. Ele ia trabalhar no mesmo horário, almoçava no mesmo horário e saía no mesmo horário. Chegava em casa e jantava a mesma comida, depois de dar uma olhada para a caixa de correio sem porta, e assistia os mesmos programas.
Duas semanas se passaram e ele voltou para o hospital. Demorou na sala de espera, aguardou no corredor e esperou na sala do médico. O doutor passou uns dez minutos fora da sala antes de entrar. A porta atrás de Tom se abriu, mas a voz que ele escutou não foi a de um médico.
- E então, como tem sido?
A mulher examinou seu dedo e mandou removerem as ataduras. Indicou um novo medicamento e o despachou. Tom não. Ele virou-se pela última vez antes de sair da sala dela:
- Você está livre amanhã á noite?
Foi a primeira remada que ele deu contra a rotina. Eles se encontraram, namoraram por alguns meses, mas ao contrário do que estão pensando, eles não se casaram. Cada um seguiu seu caminho, mas Tom não deixou mais que o caminho o levasse. Desde então ele tem um novo emprego, acorda mais tarde, chega em casa mais cedo, janta coisas diferentes á cada dia e marca programas para a noite. Agora Tom é um homem livre.

Até consertou a porta da caixa de correios.

Por Igor Mariano

Um comentário: